segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O que não cega, mata


COLUNA POLÍTICA DIRETO DE CARUARU- EDITORIAL


Quando a política for debatida em cima de propostas, e ideias forem o cerne de todas as discussões, quando o bem do povo for o único elo e o único fim das disputas por cargos, quando não houverem partidos, mas, UNIDOS pelo bem e pela dignidade humana dos menos abastados, nesse dia, teremos atingido o topo da maturidade social e a independência de que tanto falamos, desde 1822, e da qual nunca provamos!

Enquanto o barulho ensurdecedor das ruas inflamadas por seus grupos e militantes nos desperta e embala nossos piores pesadelos de submissão, temos a impressão de viver em um universo paralelo, outro mundo em que as leis não se impõem ou pouco se aplicam, onde as regras não valem, o respeito é quimera e a permissividade reina imperiosa como aqueles que dela se valem, bem como se apossam de nossa quiescência pouco operosa e suficientemente estulta, eles mesmos, os poderosos reis deste mundo de incongruências que constitui elemento certo de nossas aterradoras impressões sobre mandos e desmandos que a ditadura branca oficiosa, mas com poderes oficiais, arvora sobre todos os seus súditos.

Esse ambiente quase paranormal, doentio, que inebria e alucina, que fulmina e aliena até os dotados de um saber que repercute apenas condição e não qualidade, há quase uma síndrome que se esvai pelo ar e que como tal, se espalha rapidamente e toma conta de todos pelas ruas, vertendo-nos de seres constituídos de um saber questionador e detentores de um passivo mínimo de racionalidade em zumbis guiados por seus caprichos e absurdos. Neste meio termo, neste mundo de sombras nos vemos mergulhados, afogados, sufocados.

Nessa terra infortuna, os erros são alijados de seus promotores e transferidos para os que ousam questionar seus efeitos, o que os acarreta e como se desdobram. Nesse cenário, a morte se pontifica como a papisa soberana de nossos frágeis destinos, até porque não importa de que se morre; por negligência ou por falta de estrutura/instrumentos, ou todos os fatores anteriores combinados, pois como em um “Morte e Vida Severina” moderno, não importa de que se morre, se aquele era o dia em que operosa senhora de nossas horas era chagada. Seja para os mais experientes, que perdem a vida sem o socorro de um medicamento controlado que não se distribui, pela falta de equipamentos elementares ou de um meio que possa ser usado para evitar que uma vida, ainda prímeva, fosse ou venha a ser perdida de maneira tão aviltante, evitando-se que as lágrimas de uma cidade inteira lavassem de dor os ladrilhos dos caminhos que a todos os recantos levam, inclusive aos campos santos, terra crua, lastro frio e berço terno dos que perderam seu último sopro de vida lutando contra o maior dos inimigos; o descaso com o bem público, que por ser de todos a ninguém pertence, e talvez por isso, a ninguém venha competir responder civil e criminalmente por tais abusos, que nos entorpecem o peito de dor, lamento, frustração e revolta.    

Mas se “essa é parte que me cabe nesse latifúndio”, de que me queixo? De que me lamento? Ora, não somos os que defendemos a perpetuação das coincidências indefensáveis, a banalização dos direitos humanos, direitos estes inalienáveis e que não têm idade, cor, gênero, mas que tem sangue, vida. Aquela mesma, Severina, de que trata João Cabral de Melo Neto em obra célebre, igual a todos nessa vida, e que de tão igual submete crianças, idosos, grávidas, e tantos e tantos a um mesmo destino, Severino em sua dureza e em seu ocaso; a cripta fria de uma câmara ardente, funesta, sôfrega e onde a imagem pálida dos que perecem deixará para trás uma certeza; estamos cegos, ou mortos!


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