Por Professor Ednaldo Jr.
O
Brasil é respeitado mundialmente pela excelência de suas produções televisivas,
especialmente as novelas e séries aqui produzidas, que correm o mundo
encantando públicos de culturas tão diversas, mas que admiram o talento dos
autores tupiniquins em retratar, com tanta maestria, as cenas do cotidiano
brasileiro, quer sejam eivadas de senso humorístico, do drama, do romance, mas
também a crítica aos comportamentos sociais que envolvem a todos enquanto
atores diretos dos processos de construção coletiva da sociedade.
Recentemente
a Rede Globo tem levado ao ar o remake da série Gabriela, inspirada na obra
homônima de Jorge Amado, um estrondoso
sucesso na década de 1970, estrelado naquela oportunidade por Sônia Braga e,
nessa nova versão, por Juliana Paes. Na história, o retrato fiel da construção
sociológica nordestina dos meados do século XX, tendo por pano de fundo a
alterosa Ilhéus dos anos 1930, imperiosa na produção de cacau para o Brasil e o
exterior, porém, marcada também pelo abuso de poder exercido pelos coronéis que
ditavam as regras de conduta, moral, econômica e política, aos que se
subjugavam aos seus ditames. Nesse contexto não lhes restava alternativa, visto
que ou seguiam as orientações do coronel de plantão ou eram trucidados por sua
prole. Ramiro Bastos, personagem encarnado pelo ator Antônio Fagundes, reporta
o que há de mais vil na política brasileira e, de maneira mais doméstica, a
nordestina, que infelizmente vê-se ainda contaminada pelos ares do populismo
que mascara grande parte dos lobos em pele de cordeiro que se locupletam da
atividade representativa e governativa para suster a sanha desvairada de uma
meia dúzia de apaniguados que usura o erário público, maculam a dignidade e
legalidade cidadã, constituídas a custa do suor e sangue derramados nos
levantes históricos que serviram de fundamento para alicerçar nossa tão
vulnerável democracia brasileira.
Todo
cidadão é um agente político em potencial, portanto, somos políticos por
excelência. O termo política nasce na Grécia clássica como “Politikós”, que
quer dizer ‘tudo que se refere à cidade’, porém, a latinização do pensamento
político suscitou o surgimento de um modelo de política que se funda na
expropriação do direito universal coletivo em favor dos vis anseios de um
minoritário conjunto de entes despossuídos de qualquer melhor intenção no bem
comunitário. Nossa história recente está repleta de exemplos de políticos da estirpe
de Ramiro Bastos, legítimos coronéis que veem na atividade política a
oportunidade de erigir as cercas que delimitarão seus “currais”, seu território
e seu rebanho.
Há
tempos, me incomoda participar de espetáculos que distam aterradoramente do
exercício pleno da democracia e que mais se confundem com acessos de selvageria
que a poucos espécimes ditos ‘irracionais’ do reino animal poderia ser
associado e que são tão comuns em nossa terra. Mais que isso, frustra-me
observar que a juventude, mola mestra do processo de transformação social,
alimenta esses mesmos excessos, os descalabros administrativos e abona atos
delituosos que mais que aviltar, impregnam nossas instituições políticas, o
Estado e o Legislativo, de pessoas desqualificadas, desprovidas de condição
moral e qualitativa de exercerem cargos de tamanha responsabilidade, posto que
não zelam pelo bem coletivo.
A
cada rua sem infraestrutura, a cada entulho acumulado, a cada buraco não
fechado, a cada UBS sem médico, tenho ainda mais certeza de que a idolatria
inconsequente leva ao ostracismo e a cegueira política, bem como a ruina
coletiva, mesmo daqueles que não emprestam seus auspícios para projetos
malfadados e plenos de convicções vazias e ideologismos torpes. Render altares
aos salteadores, desde os templos bíblicos, não constitui elemento regular da
conduta social, mas, em Santa Cruz do Capibaribe insistimos em manter acesa
essa chama, que por vezes se confunde com sobressaltos de corrupção que de há
tempos ouvimos falar, sem nada fazer.
Ainda
alimentamos a tese de que não podemos votar pra perder e para tanto
mantemos no poder os mesmos Ramiros de sempre, os coronéis da nossa Ilhéus
pernambucana. Somos filhos de um coronelismo moderno, populista, infame e que
relega ao flagelo da ruina uma cidade dotada de brios e da coragem de sua gente
bravia e operosa, que apesar de não depender de ação política para sua dinâmica
econômica ainda não compreendeu a força que tem para emprestar a joia do
Capibaribe os mesmos sopros de mudança que o mundo assiste no Oriente Médio e
que o Brasil viu em 2003 com a chegada de Lula ao poder.